segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Convite

Santo do Dia


Santo Honorato de Arles
Honorato era filho de uma nobre família romana, tendo vivido lá pela metade do século IV. Como todo nobre, recebeu educação elevada que, ao contrário do que esperava a família, usou-a como monge e pastor para firmar-se como líder da Igreja. Converteu-se depois de adulto, mesmo pressionado pelos pais para que abandonasse a fé. Acabou conseguindo converter o irmão, Venâncio.

Assim que os pais morreram, os dois irmãos se desfizeram de todos os bens, doando tudo aos necessitados e se transformando em pregadores. Tendo Crepácio como guia espiritual, viajaram espalhando o Catolicismo pela Síria, Grécia e outras terras. Quando Venâncio morreu, Honorato resolveu voltar à Itália, onde se ordenou sacerdote.

Mas voltou a viajar com Crepácio, até que fincou raízes numa ilha desabitada, chamada Lerins. Que, aliás, passou a ser conhecida como "Ilha Feliz". Isso porque Honorato fundou ali um mosteiro de elevada inspiração espiritual e intelectual. Tornou-se rapidamente uma venerada escola de monges.

Dali saíram santos e escritores célebres como Santo Hilário, São Lupo, Cesário de Arles, Vicente de Lerins e tantos outros. O apelido de "Ilha Feliz" veio da alegria com que se praticavam os preceitos cristãos no mosteiro, graças à orientação de Santo Honorato. Ele costumava dizer a seus discípulos que "quem é virtuoso não precisa estar triste" e seu humor contagiava a todos que o rodeavam.

O mosteiro resistiu e semeou fé até a Revolução Francesa, quando os monges foram desterrados e a construção confiscada. Somente 50 anos depois é que o bispo de Fréjus conseguiu reconstruí-lo, trazendo-o de volta para sua função original.

Quanto a Santo Honorato, que teve que deixá-lo quando foi eleito bispo de Arles, faleceu em 429. Sobre ele escreveu Santo Hilário: "Se fosse preciso representar a caridade, eu retrataria a efígie de Santo Honorato".

Evangelho do Dia


Evangelho (Marcos 2,18-22)




Segunda-Feira, 16 de Janeiro de 2012
2ª Semana Comum

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 18os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?” 19Jesus respondeu: “Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar. 20Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; aí, então, eles vão jejuar. 21Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”.


- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
Comentário
Nesta narrativa de Marcos, o destaque é a questão do jejum, uma das principais observâncias religiosas dos fariseus, mencionado seis vezes neste texto. Jesus, com Seus discípulos, infringia essa prescrição legal, bem como a observância do sábado, conforme os Evangelhos registram com frequência. Em vez de aderir à tradicional doutrina da Lei que, com seus preceitos oprimia e excluía o povo pobre e humilde, Cristo vem para libertá-los de todo jugo, social, espiritual ou religioso, e comunicar-lhes esperança, felicidade e vida.
O texto de hoje relata a terceira duma série de controvérsias com vários grupos judaicos, iniciada em Marcos 2,1. Talvez, surpreendentemente, a discussão de hoje se deu não somente com os fariseus, mas com os discípulos de João Batista. Marcos fala disso porque os discípulos de João formavam uma comunidade que sobreviveu à morte do Batista, sem dúvida até o segundo século da nossa era (cf. Jo 3,25). O motivo foi porque os discípulos de Jesus não davam grande importância ao jejum – uma prática que, ao lado da oração e da esmola, era muita cara às tradições religiosas dos judeus. Aliás, práticas também que continuam a ter muito sentido para os cristãos de hoje, se bem que com ênfases e expressões diferentes.
O Sermão da Montanha, no sexto capítulo de Mateus (cf. Mt 6,1-18), nos dá as orientações de Jesus sobre essas práticas, para evitar que caiam no formalismo e no vazio de serem somente práticas externas que não tocam no coração da pessoa humana. Atualmente, na Sexta-feira Santa por exemplo, lotam-se os restaurantes para comer bacalhau caríssimo, uma vez que comer um bifezinho é proibido! E, assim, se cumpre a Lei “na letra” mas não “no espírito”.
Mas no trecho de hoje,o Senhor Jesus não se concentra sobre o jejum como tal, mas sobre o simbolismo de jejuar ou não no contexto das bodas ou casamento. A imagem do banquete de casamento tinha conotações messiânicas e a referência a Jesus, como o Noivo, tem esse sentido. Com a vinda de Jesus Nazareno, chegou a hora do casamento, ou seja, dum novo relacionamento entre Deus e as pessoas. Mas também nesse texto, bem no meio das controvérsias, se faz uma alusão clara à cruz, ao destino de Cristo, pois “vão chegar dias em que o noivo será tirado do meio deles. Nesse dia, eles vão jejuar”. A fidelidade à vontade do Pai, na pregação da novidade da chegada do Reino de Deus, levará Cristo inevitavelmente à morte, pois o velho sistema politico-religioso é incapaz de adaptar-se à grande novidade da Boa Nova trazida por Ele.
Por isso, Marcos termina o texto colocando duas comparações sobre a relação entre o velho e o novo: o pano remendado e os barris de vinho. A Boa Nova, com as suas consequências sociais e religiosas, é como um pano novo no qual não pode remendar roupas velhas, e como barril novo que preserva vinho novo. Para acolher Jesus e o Seu projeto é necessário acabar com estruturas arcaicas de dominação e de discriminação. Quem procurar salvaguardar esquemas antiquados e injustos não vai conseguir vivenciar a Boa Nova. O Salvador veio exigir de todos nós mudança radical, tanto no nível individual como social. Não veio “remendar”, mas trazer algo novo – um novo relacionamento entre as pessoas, com Deus, com elas mesmas e com a criação.
A presença de Jesus Cristo entre Seus discípulos e no mundo é motivo de alegria. É o próprio Deus da vida e do amor presente entre nós, dispensando as práticas cultuais que são feitas em busca de um deus oculto e distante.
Com as sentenças sobre remendo novo em roupa velha e vinho novo em odres velhos fica afirmada a novidade do movimento de Jesus, que se diferencia fundamentalmente da antiga prática religiosa legalista.
O desafio continua hoje: como é tentador “remendar”, ou seja, fazer somente algumas mudanças que não atingem o cerne das estruturas de exploração, nem a sua raiz na nossa pecaminosidade. Por isso, a sociedade hegemônica, dizendo-se muitas vezes “cristã”, sempre procura cooptar o Evangelho e a Igreja, para que não tenha que mudar. Quando a cooptação e o suborno sutil não funcionam, parte para a perseguição – por isso Marcos desde já aponta para a cruz. A sociedade moderna, com a sua grande arma nos Meios de Comunicação Social, continua essa cooptação, disseminando uma religião “água com açúcar”, de “panos quentes”, dando espaço para movimentos religiosos intimistas e alienantes, enquanto cala a voz dos profetas, ignorando-os ou até matando-os, como o sangue dos mártires da América Latina muito bem testemunha.
O Evangelho de hoje nos desafia para que façamos as mudanças radicais necessárias a fim de que possamos acolher a Boa Nova. E então seremos odres novos que acolhem o Vinho Novo. E então seremos alvos da mensagem de Jesus: “Vinho novo deve ser colocado em odres novos” que são os nossos corações.
Padre Bantu Mendonça