— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 20“Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, ficai sabendo que a sua destruição está próxima. 21Então,  os que estiverem na Judeia, devem fugir para as montanhas; os que  estiverem no meio da cidade, devem afastar-se; os que estiverem no  campo, não entrem na cidade. 22Pois esses dias são de vingança, para que se cumpra tudo o que dizem as Escrituras. 
23Infelizes das mulheres grávidas e daquelas que estiverem  amamentando naqueles dias, pois haverá uma grande calamidade na terra e  ira contra este povo. 24Serão mortos pela espada e levados  presos para todas as nações, e Jerusalém será pisada pelos infiéis, até  que o tempo dos pagãos se complete. 25Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. 26Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas. 27Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. 28Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. 
- Palavra da Salvação. 
- Glória a vós, Senhor. 
Estamos nos últimos dias da vida terrena de Jesus, após a Sua entrada  triunfal em Jerusalém. Cristo está completando a catequese dos  discípulos e, nesse contexto, anuncia-lhes tempos difíceis de  perseguição e de martírio. Avisa-os, também, de que a própria cidade de  Jerusalém será, proximamente, sitiada e destruída. Ora, é neste contexto  e nesta sequência que aparece o texto do Evangelho de hoje. A peça fundamental à volta da qual se estrutura o Evangelho de hoje  está na referência à vinda do Filho do Homem com grande poder e glória e  no convite a cobrar ânimo e a levantar a cabeça porque a libertação  está próxima. A palavra libertação é uma palavra característica  da teologia paulina (cf. I Cor 1,30; cf. Rom 3,24; 8,23; Col 1,14), na  qual é usada para definir o resultado da ação redentora de Jesus em  favor dos homens. 
 O projeto de salvação/libertação da humanidade, concretizado nas  palavras e nos gestos de Jesus Cristo, é apresentado como o resgate de  uma humanidade prisioneira do egoísmo, do pecado e da morte. Trata-se,  portanto, da libertação de tudo o que escraviza os homens e os impede de  viver na dignidade de filhos de Deus.
 A mensagem proposta aos discípulos é clara: um caminho  marcado pelo sofrimento e pela perseguição os espera. No entanto, não  devem se deixar afundar no desespero porque Jesus virá. Com a  vinda gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo (de ontem, de hoje, de  amanhã), cessará a escravidão insuportável que os impede de conhecer a  vida em plenitude e nascerá um mundo novo, de alegria e de felicidade  plenas.
 Os “sinais” catastróficos apresentados não são um quadro do fim do  mundo. São imagens utilizadas pelos profetas para falar do “Dia do  Senhor”, isto é, o dia em que Deus vai intervir na história para  libertar definitivamente o Seu povo da escravidão, inaugurando uma era  de vida, de fecundidade e de paz sem fim. O quadro destina-se, portanto,  não para amedrontar, mas para abrir os corações à esperança. Quando  Jesus vier com a Sua autoridade soberana, o mundo velho do egoísmo e da  escravidão cairá e surgirá o dia novo da salvação/libertação sem fim.
 Há, ainda, um convite à vigilância: é necessário manter uma atenção  constante a fim de que as preocupações terrenas e as cadeias  escravizantes não impeçam os discípulos de reconhecer e de acolher o  Senhor que vem.
 A reflexão acerca do Evangelho de hoje pode tocar, entre outros, o  seguinte ponto: a realidade da história humana está marcada pelas nossas  limitações, pelo nosso egoísmo, pela destruição do planeta, pela  escravidão, pela guerra e pelo ódio, pela prepotência dos senhores do  mundo. 
 Quantos milhões de homens conhecem, dia a dia, um quadro de miséria e  de sofrimento que os torna escravos, roubando-lhes a vida e a  dignidade. A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre a porta à  esperança e grita a todos os que vivem na escravidão: “Alegrai-vos, pois a vossa libertação está próxima!” 
 Com a vinda próxima de Jesus, o projeto de salvação/libertação de  Deus vai tornar-se uma realidade viva. O mundo velho vai converter-se  numa nova realidade de vida e de felicidade para todos.
 No entanto, a salvação/libertação que há-de transformar as nossas  existências não é uma realidade que deva ser esperada de braços  cruzados. É preciso “estar atento” a essa salvação que nos é oferecida  como dom, e aceitá-la. 
 Jesus virá. Mas é necessário reconhecê-Lo nos sinais da história, no  rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. É  preciso, também, ter a vontade e a liberdade de acolher o dom de Cristo  e deixar que Ele nos transforme.
 É preciso, ainda, ter presente que este mundo novo – que está  permanentemente a fazer-se e depende do nosso testemunho – nunca será  uma realidade plena nesta terra, mas sim uma realidade escatológica,  cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, haver destruído  definitivamente o mal que nos torna escravos.
 Padre Bantu Mendonça