— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos. 
— Glória a vós, Senhor. 
Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele  lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um  pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham  tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles. 34Ao  desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque  eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas  coisas.
- Palavra da Salvação. 
- Glória a vós, Senhor. 
 
Comentário
              Pegando  a frase do Evangelho “a multidão estava como que ovelhas sem pastor”, Jesus  atrai para si o título de Pastor. Este atributo recebe a  sua  justificação na observação do evangelista ao interpretar os  sentimentos  do coração do Senhor: vendo as multidões que O seguiam, Jesus  se  compadeceu delas, teve compaixão.
Mestre, desde o início da Sua missão, Jesus  convida os discípulos – e  a todos nós! – a manifestar aos homens o amor de Deus  por eles.
Em poucas linhas, podemos ter o quadro da vida de Jesus Nazareno com   os apóstolos e a multidão do povo: a intimidade do Senhor com o grupo   dos Doze visando à formação destes, a atividade intensa da vida  pública  de Jesus e dos apóstolos, o entusiasmo do povo pelo Senhor, a Sua  disponibilidade apesar da fadiga, por fim, os sentimentos profundos  de  Jesus diante desse povo errante e sedento de Deus. É assim que Deus olha   para mim e para você, bem como para toda a sua família e os homens no  mundo  inteiro. Deus deseja e quer que todos O procuremos: “Havia ali tanta gente, chegando e saindo“.
Embora  com o desejo e a vontade de atender a todos, Jesus,  juntamente com os apóstolos, ressalta a necessidade de um descanso, após  as tarefas apostólicas.  Para dizer que também o missionário precisa de  descanso. Um tempo de  retiro, de recuperação das energias, de  intimidade com Deus. Foi por  isso que, quando os discípulos voltam  empolgados com os resultados da missão, a  primeira reação do Mestre é  convidá-los para uma retirada, para que  refaçam as forças.
Jesus tem critérios que não correspondem ao  grande critério da  sociedade nossa: o da eficácia. Para Ele, os  apóstolos não eram  “máquinas”, mas, em primeiro lugar, pessoas humanas que  necessitavam  ser tratadas como tais.
O trabalho – mesmo o trabalho  missionário – não é absoluto.  Jesus reconhece a necessidade de um  equilíbrio entre todos os aspectos  da vivência humana. Aqui há uma lição  para muitos cristãos engajados  hoje: embora devamos nos dedicar ao  máximo no apostolado, não devemos  descuidar da nossa vida  particular, da nossa saúde, do cultivo de  valores espirituais e do relacionamento afetivo com os outros.  Caso contrário,  estaremos esgotados em pouco tempo, meras “máquinas” ou  “funcionários” do sagrado, que não mostram ao mundo o rosto compassivo  do Pai, mas que por  dentro são “ocos”!
O  texto ressalta a compaixão de Jesus para com o povo com uma   característica específica: era um povo muito sofrido, rejeitado e   desprezado pelos chefes político-religiosos da época. Diante de tal  cenário, muitas vezes, Cristo nem tinha  tempo para comer. E quando Ele  se retirava, o povo ia atrás d’Ele.
O que  atraía tanta gente? Com certeza, não foi em primeiro lugar a  doutrina,  nem os milagres, mas o fato de irradiar compaixão, de  demonstrar duma  maneira concreta o amor compassivo de Deus. Jesus não  teve “pena” do  povo, não teve “dó” dos sofridos. Teve “compaixão” das  pessoas, literalmente, sofria  junto com elas, e tinha uma empatia com  os sofredores, a qual se transformava numa  solidariedade afetiva e  efetiva.
Este traço da personalidade de Jesus  desafia a Igreja e os seus  ministros hoje, para que não sejam  “burocratas do sagrado”, mas  irradiadores da compaixão do Pai.
Infelizmente, muitas vezes, as nossas igrejas mais parecem  repartições  públicas do que lugares do encontro com a comunidade que  acredita no  amor misericordioso de Deus e na compaixão de Jesus! A  frieza humana  frequentemente marca as nossas atitudes, pregações e  cuidado pastoral.  Num mundo que exclui, que marginaliza e que só  valoriza quem consome e  produz, o texto de hoje nos desafia a nos  assemelharmos cada vez  mais a Cristo, irradiando compaixão diante das  multidões que hoje – mais do que nunca! – estão como que ovelhas sem  pastor.
Padre Bantu Mendonça