sábado, 12 de novembro de 2011

Santo do Dia São Josafá

SÃO JOSAFÁ

Tudo na vida de João Kuncewics aconteceu cedo e rápido. Nascido de família cristã ortodoxa da Ucrânia, em 1580, estudou filosofia e teologia. Aos vinte anos, tornou-se monge na Ordem de São Basílio, recebendo o nome de Josafá. Em pouco tempo, era nomeado superior do convento e, logo depois, arquimandrita de Polotsk. Com apenas trinta e sete anos, assumiu, embora a contragosto, o arcebispado de Polotsk.

Dizem os escritos antigos que a brilhante carreira era plenamente justificada pelos seus dotes intelectuais e, principalmente, pelo exemplo de suas virtudes, obediência total à disciplina monástica e à prática da caridade.

Exemplo disso foi quando, certa vez, sem ter como ajudar uma viúva que passava necessidades, penhorou o pálio de bispo para conseguir dinheiro e socorrê-la.

Vivia-se a época do cisma provocado pelas igrejas do Oriente e Josafá foi um dos grandes batalhadores pela união delas com Roma, tendo obtido vitória em muitas das frentes de batalha.

Josafá defendia com coragem a autoridade do papa e o fim do cisma, com a conseqüente união das igrejas. Pregava e fazia questão de seguir os ensinamentos de Jesus numa só Igreja, sob a autoridade de um único pastor. Sua luta incansável reconquistou muitos hereges e ele é considerado o responsável pelo retorno dos rutenos ao seio da Igreja. Embora outras igrejas do Oriente não o tenham seguido, foi uma vitória histórica e muito importante.

Atuando dessa forma e tendo as origens que tinha, é evidente que sofreria represálias. Foi vítima de calúnias, difamação, acusações absurdas e uma oposição ameaçadora por parte dos que apoiavam o cisma. Em uma pregação, chegou a prever que seu fim estava próximo e seria na mão dos inimigos. Até mesmo avisou "as ovelhas do seu rebanho", como dizia, de que isso aconteceria. Mas não temia por sua vida e jamais deixou de lutar.

Em uma das visitas às paróquias sob sua administração, sua moradia foi cercada e atacada. Muitas pessoas da comitiva foram massacradas. O arcebispo Josafá, então, apresentou-se aos inimigos perguntando porque matavam seus familiares se o alvo era ele próprio. Impiedosamente, a multidão maltratou-o, torturou-o, matou-o e jogou seu corpo em um rio.

Tudo ocorreu no dia 12 de novembro de 1623, na cidade de Vitebsk, na Bielorússia. Seu corpo, depois, foi recuperado e venerado pelos fiéis. Mais tarde, os próprios responsáveis pelo assassinato do arcebispo foram presos, julgados, condenados e acabaram convertendo-se, escapando da pena de morte.

O papa Pio IX canonizou-o em 1876. São Josafá Kuncewics, considerado pelos estudiosos atuais da Igreja o precursor do ecumenismo que vivemos em nossos dias.

Evangelho do Dia

Lucas 18,1-8
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 1Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo: 2“Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. 3Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’ 4Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. 5Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha agredir-me!’” 6E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. 7E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”

- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
Breve Comentário
Esta parábola do juiz injusto é um ensinamento muito expressivo acerca da eficácia da oração perseverante e firme. E, providencialmente, constitui a conclusão da doutrina sobre a vigilância exposta nos versículos anteriores. O fato de comparar o Senhor com uma pessoa como esta, põe em relevo o contraste entre ambos: se até um juiz injusto acaba por fazer justiça àquele que insiste com perseverança, quanto mais Deus, infinitamente justo e nosso Pai, escutará as orações perseverantes dos Seus filhos.
Deus fará justiça aos Seus escolhidos que clamam por Ele sem cessar. A necessidade da oração fundamenta-se na necessidade da graça atual. É uma verdade de fé que, sem esta graça, nos achamos em impotência radical de nos salvarmos e, com maior força de razão, de atingirmos a perfeição. De nós mesmos, por melhor uso que façamos da liberdade, não podemos nem nos dispor positivamente para a conversão, nem perseverar por tempo notável, tampouco, e sobretudo, perseverar até à morte: Sem mim, diz Jesus a Seus discípulos, nada podeis fazer, nem sequer ter um bom pensamento.
São muito claros os textos que nos mostram a necessidade de rezar se quisermos alcançar a salvação: “É preciso rezar sempre e nunca descuidar” (Lc 18,1). “Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt 25,41). “Pedi e dar-se-vos-á” (Mt 7,7).
É preciso rezar. “Orai” e “pedi” significam e impõem um preceito e uma obrigação, um mandamento formal.
Os Padres da Igreja tais como, por exemplo, São Basílio Magno, São João Crisóstomo e Santo Agostinho ensinam que a oração para os adultos é necessária, não somente por ser um mandamento de Deus como também por ser um meio necessário para a salvação. Assim, torna-se impossível que um cristão se salve sem pedir as graças necessárias para a sua salvação.
Depois do batismo, a oração contínua é necessária ao homem para poder entrar no céu. Embora sejam perdoados os pecados pelo batismo, sempre ainda ficam os estímulos ao pecado – que nos combatem interiormente – o mundo e os demônios – que nos combatem externamente.
A oração é necessária não para que Deus conheça as nossas necessidades, mas para que nós fiquemos conhecendo a necessidade que temos de recorrer a Deus, para receber oportunamente os socorros da salvação. Assim, reconhecemos Deus como único Autor de todos os bens, a fim de que conheçamos que necessitamos de recorrer ao auxílio divino e reconheçamos que Ele é o Autor dos nossos bens.
No texto de hoje vemos a descrição das duas personagens. O juiz é mau. A viúva é pobre e sem amparo, o único recurso desta é a perseverança em implorar justiça. Perseveremos também em nossa oração, nós que tratamos não com um juiz iníquo, mas com um Pai rico em misericórdia.
A razão que o Senhor dá para atender as orações é tríplice: a Sua bondade, que tanto dista da compaixão do juiz; o amor que tem pelos Seus discípulos e, por último, o interesse que estes mostram na perseverança na petição. Deus está sempre atento a quem O invoca. Pede-Lhe sem titubear e conhecerá que a Sua grande misericórdia não o abandona, mas dará cumprimento à petição de sua alma.
A viúva não desanimou, mas perseverou e foi atendida. Perseveremos também na oração e Deus nos atenderá. É, pois, necessário que rezemos com humildade e confiança. Entretanto, isso somente não basta para alcançarmos a perseverança final e, com ela, a salvação eterna. As graças particulares que pedimos a Deus, podemos obtê-las por meio de orações particulares. Mas, se não perseverarmos na oração, não conseguiremos a perseverança final, a qual compreende uma cadeia de graças e, por isso, supõe repetidas e continuadas até à morte.
Assim como nunca cessa a luta, assim também nunca devemos deixar de pedir a misericórdia divina, para não sermos vencidos. Se quisermos, pois, que Deus não nos abandone, devemos pedir-Lhe sempre que nos auxilie. Fazendo assim, certamente Ele nos assistirá sempre e não permitirá que nos separemos d’Ele e que percamos a Sua amizade.
Procuremos, por isso, rezar sempre e pedir a graça da perseverança final, bem como as graças para consegui-la.
A oração perseverante é índice de fé profunda, de firme esperança, de caridade viva para com Deus e o próximo. O ensinamento de Jesus Cristo sobre a perseverança na oração une-se com a severa advertência de que é preciso se manter fiel na fé.
Fé e oração estão intimamente unidas. Creiamos para orar e para que não desfaleça a fé com que oramos, oremos. A fé faz brotar a oração. E a oração, enquanto brota, alcança a firmeza da fé. O Senhor anunciou a Sua assistência à Igreja para que possa cumprir indefectivelmente a sua missão até ao fim dos tempos (cf. Mt 28,20).
A Igreja, portanto, não pode se desviar da verdadeira fé. Porém, nem todos os homens perseverarão fiéis, mas alguns se afastarão voluntariamente da fé. É o grande mistério que São Paulo chama de iniquidade e de apostasia (cf. II Ts 2,3), e que o próprio Jesus Cristo anuncia noutros lugares (cf. Mt 24,12-13). Deste modo o Senhor previne-nos para que, ainda que à nossa volta haja quem desfaleça, nos mantenhamos vigilantes e perseveremos na fé e na oração. Deus há de ouvir, finalmente, aos Seus eleitos se eles orarem com fé e perseverança. Ainda que seja ao cabo de vinte, trinta anos, no fim da vida. Que é isso em relação à eternidade?
Mas, infelizmente, a fé vai enfraquecendo. E com ela a caridade. E sem caridade é impossível a oração.
Padre Bantu Mendonça