quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Santo do Dia

                                                                   Santa Apolônia
Os seis anos de 243 a 249, durante os quais o rumo do Império Romano ficou sob a direção de Felipe o Árabe, foram considerados: um intervalo de trégua do regime do anticristianismo. No último ano, porém, houve um episódio que comprovou que a aversão aos cristãos, pelo menos na província africana, não havia desaparecido.

O ocorrido era narrado por Dionísio, o bispo da Alexandria no Egito, em uma carta que enviou ao bispo Fabio da diocese de Antioquia, em 249. Na carta ele escreveu que: "No dia 9 de fevereiro, um charlatão alexandrino, "maligno adivinho e falso profeta", que insuflava a população pagã, sempre pronta a se agitar, provocou uma terrível revolta. As casas dos cristãos foram invadidas. Os pagãos saquearam os vizinhos católicos ou aqueles que estivessem mais próximos, levando as jóias e objetos preciosos. Os móveis e as roupas foram levados para uma praça, onde ergueram uma grande fogueira. Os cristãos, mesmo os velhos e as crianças, foram arrastados pelas ruas, espancados, escorraçados e, condenados a morte, caso não renegassem a fé em voz alta. A cidade parecia que tinha sido tomada por uma multidão de demônios enfurecidos".

"Os pagãos prenderam também a bondosa virgem Apolônia, que tinha idade avançada. Foi espancada violentamente no rosto porque se recusava a repetir as blasfêmias contra a Igreja, por isto teve os dentes arrancados. Além disso, foi arrastada até a grande fogueira, que ardia no centro da cidade. No meio da multidão enlouquecida, disseram que seria queimada viva se não repetisse, em voz alta, uma declaração pagã renunciando a fé em Cristo. Neste instante, ela pediu para ser solta por um momento, sendo atendida ela saltou rapidamente na fogueira, sendo consumida pelo fogo."

O martírio da virgem Apolônia, que terminou aparentemente em suicídio, causou, exatamente por isto, um grande questionamento dentro da Igreja, que passou a avaliar se era correto e lícito, se entregar voluntariamente à morte para não renegar a fé. Esta dúvida encontrou eco também no livro " A cidade de Deus" de Santo Agostinho, que também não apresentou uma posição definida.

Contudo, o gesto da mártir Apolônia, a sua vida reclusa dedicada à caridade cristã, provocou grande emoção e devoção na província africana inteira, onde ela consumou o seu sacrifício. Passou a ser venerada, porque foi justamente o seu apostolado desenvolvido entre os pobres da comunidade que a colocou na mira do ódio e da perseguição dos pagãos, e o seu culto se difundiu pelas dioceses no Oriente e no Ocidente.

Em várias cidades européias surgiram igrejas dedicadas a ela. Em Roma foi erguida uma igreja, hoje desaparecida, próxima de Santa Maria em Trasteve, Itália.

Sobre a sua vida não se teve outro registro, senão que seus devotos a elegeram, no decorrer dos tempos, como protetora contra as doenças da boca e das dores dos dentes. Mas restou seu exemplo de generosa e incondicional oferta a Cristo. A Igreja a canonizou e oficializou seu culto conforme a data citada na carta do bispo Dionísio.

Evangelho do Dia

Evangelho (Marcos 7,24-30)

Quinta-Feira, 9 de Fevereiro de 2012
5ª Semana Comum


— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 24Jesus saiu e foi para a região de Tiro e Sidônia. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguiu ficar escondido.
25Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. 26A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. 27Jesus disse: “Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”.
28A mulher respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”.
29Então Jesus disse: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha”. 30Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já havia saído dela.

- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor. 
 
Comentário
Jesus e os Seus discípulos estavam sob uma considerável pressão, pois a hostilidade dos judeus intensificava-se. Assim, o Mestre e os Seus seguidores retiraram-se para as fronteiras de Tiro e Sidônia e, não querendo que alguém soubesse disso, o Senhor entrou numa casa onde esperava encontrar alguma privacidade.
Mas, significativamente, Jesus não pode ficar escondido, porque a Sua mensagem era demasiado maravilhosa e os Seus feitos demasiado poderosos para serem ocultados.
Trata-se do Sumo Bem personalizado em Jesus, por isso, não se pode esconder seja a quem for. Sua fama precedia-O aonde quer que Ele fosse.
Dentro dessa visão, uma mulher com o coração despedaçado O procura e O descobre. Ela era de origem cananeia, isto é, tinha raízes pagãs. A mulher estava extremamente aflita devido ao fato de sua filha estar possuída por um demônio que lamentavelmente a atormentava.
Tendo em vista o pedido que queria fazer, esta mãe ansiosa seguiu Cristo e os que O acompanhavam, tendo–Lhe rogado que tivesse compaixão dela e curasse a sua filha. Muitos pensam que o Senhor a tratou de uma forma descuidada, quase rudemente. No entanto, esse ponto de vista não tem qualquer fundamento.
Uma análise mais cuidadosa revela que Cristo conhecia a qualidade da alma dessa mulher e Ele a desafiou a amadurecer. De um modo maravilhoso, o Mestre colocou vários obstáculos no caminho da cananeia. E cada um destes obstáculos ela superou com uma fé radiante. Finalmente, Jesus exclamou: “Ó mulher, grande é a tua fé!” e Ele curou a sua filha sem nem sequer ter colocado os olhos sobre a criança. Que qualidades caracterizavam a fé dessa mulher, a ponto de receber tão grande elogio por parte do Salvador?
Ela, embora com antecedentes pagãos, tinha obviamente conhecimento em relação ao Filho de Deus. Isso é evidenciado pelo fato de ela tratar Jesus como “Senhor, filho de Davi”.
Onde teria ela aprendido sobre o Filho de Deus? Teria ela ouvido alguém falar sobre Ele? Teria ela viajado para a Galileia, estando presente entre as multidões que O seguiam? Essas perguntas devem permanecer sem resposta. O fato é que ela acreditou.
Jesus ensinou em uma ocasião: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á.”. As formas verbais denotam ação contínua, persistência. Essa senhora encantadora entendeu bem esse princípio, tanto que a sua fé era da mais tenaz.
Conforme sugerido anteriormente, com a intenção de aumentar e testar a sua fé, o Senhor colocou pequenas barreiras no caminho dessa mulher, mas ela as superou uma a uma. Isso é uma evidência clara da percepção divina de Cristo, que penetrava através da essência da alma dessa mulher. Ela era uma pessoa forte, mas este encontro com o Filho de Deus a tornaria ainda mais forte.
Os discípulos sugeriram que Cristo concedesse apressadamente o pedido da mulher para que ela os deixasse em paz. Com certeza, essa foi a intenção do pedido feito pelos discípulos. E isso está claramente implícito na natureza da resposta dada pelo Senhor. Jesus respondeu que Ele havia sido enviado apenas às ovelhas perdidas da casa de Israel. E isso excluía essa mulher gentia. Mas ela não desistiu!
Cristo disse-lhe: “Deixa que primeiro se fartem os filhos; porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. Muitos se queixam de que nessa ocasião o Senhor usou uma linguagem ofensiva aos gentios, mas o termo grego utilizado para a palavra “cães” é diminutivo, significando um pequeno cachorrinho de estimação. A expressão não é áspera como poderia parecer.
Então, essa mulher perseverante “agarrou-se” ao significado da palavra “primeiro”. Sendo certo que ela reconheceu a prioridade dos judeus no plano do Deus, claramente ela detectou a inferência de que os gentios no futuro também receberiam a benevolência do Salvador, tendo pensado provavelmente: “Por que não agora?”
Desse modo, com um argumento brilhante, ela contrapôs: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”. Ela ficaria satisfeita com apenas uma migalha da mesa do seu Mestre. Que grande mulher! Ela agarrou-se firmemente à Misericórdia Divina, não sendo de admirar que o Salvador tivesse elogiado a sua grande fé!
Embora a mulher siro-fenícia tivesse rogado ao Senhor dizendo: “Tem compaixão de mim”, de fato, o pedido foi para a sua filha. A sua paixão estava tão dirigida para a sua filhinha que ela colocou de lado quaisquer necessidades pessoais e sentimento ede orgulho e implorou pelo bem-estar da sua criança aflita. A história de um espírito tão disposto ao sacrifício é deveras refrescante nestes dias, quando o abuso infantil é um drama tão comum.
Essa mulher entendeu bem o conceito de que uma fé sem obras está morta. Embora não lhe tivessem pedido para executar nenhum ato específico de obediência, quando Cristo visitou a sua região, ela buscou-O, seguiu-O, adorou-O, apelou para Ele e argumentou com Ele. Se ela tivesse atuado segundo a premissa de que “contanto que acredite que isso seja assim, assim será”, a sua filha teria permanecido na mesma situação deplorável.
É uma grande verdade que, segundo o Novo Testamento, nenhuma pessoa foi alguma vez abençoada por causa da sua fé pessoal, sem que essa fé tivesse sido manifestada em ações.
Quão triste teria sido se esta estimável mulher tivesse raciocinado do seguinte modo: “Sou gentia, uma mera mulher sem nenhuma reputação. Quem sou eu para receber qualquer bênção deste importante Nazareno?” Tivesse sido esse o caso, ela não teria pedido e, por conseguinte, não teria recebido!
Essa mulher anônima deve inspirar a minha e a sua fé. A sua fé resoluta e destemida faz com que Jesus, por intermédio dela, diga também a mim e você neste dia: “Grande é a tua fé!”
Padre Bantu Mendonça