Conforme a popularidade de
Jesus crescia, seus inimigos procuravam, desesperadamente, meios para
explicar seus maravilhosos poderes. Finalmente, decidiram alegar que Ele
expulsava demônios pelo poder do próprio Satanás. Paralelo ao texto de
hoje estão Mateus 12,22-32 e Lucas 11,14-23. E com apenas três
argumentos Jesus responde e faz uma advertência:
1. Como é que Satanás pode expulsar a si mesmo?
2. Se eu expulso demônios por Satanás, por quem os expulsam os vossos filhos?
3. Para roubar a casa de um homem forte,
tem-se primeiro que amarrá-lo. Expulsando demônios, estou amarrando
Satanás, de modo que eu possa cumprir minha missão de resgatar aqueles
que Satanás mantém cativos.
Sua advertência foi: “Em verdade vos digo
que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as
blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito
Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno”
(Marcos 3,28-30).
Depois de Seus debates com os fariseus, e
outros inimigos, sobre como guardar o sábado, eis que surge nova
questão: de onde vinha o poder de Cristo para expulsar demônios?
Não podendo negar Seus muitos e poderosos
milagres, os líderes judaicos tentaram vinculá-los a Beelzebul – ou
seja, a Satanás. Interiormente, sentiam que esses milagres eram
resultado da manifestação divina, mas após terem acusado e perseguido
Jesus, ficava difícil admitir a origem divina da obra feita por Ele. O
orgulho, ou seja, a falta de humildade, levou tais líderes a essa
situação.
O argumento de Cristo permaneceu sem
resposta: Como Seus milagres poderiam provir de Satanás, se destruíam a
obra dele? (saúde em vez de doença, libertação de demônios em vez de
escravidão a eles). Há aqui uma lição para todos: o orgulho pode
obliterar a visão espiritual a ponto de alguém “ao mal chamar bem, e ao
bem chamar mal” (Is 5,20).
Quando uma pessoa chega a esse ponto,
corre o risco de pecar ou “blasfemar contra o Espírito Santo” e “não ter
perdão para sempre” (Mc 3,29). Por que? O fato é que todo pecado pode
ser perdoado, desde que seja confessado (I João 1,9). Mas, se alguém
chegar ao ponto de achar que o mal é o bem (de que a falsa acusação
deles quanto aos milagres de Cristo era correta), então nunca haverão de
se arrepender disto e, por conseguinte, não obterão o perdão. Estarão
cometendo o “pecado imperdoável”, pois nunca foi confessado para ser
perdoado. Poderíamos dizer, então, que “pecado imperdoável” é pecado não
confessado e deixado, como esse dos líderes judaicos.
Os escribas vindos de Jerusalém são os
enviados dos chefes religiosos que tinham em mãos o culto sacrifical do
Templo e o dinheiro do Tesouro, anexo ao Templo. Eles percebem que
Jesus, com Seu anúncio da verdade e do amor, é uma ameaça para o poder e
os privilégios deles. Jesus já havia expulsado o espírito impuro que
dominava um homem numa sinagoga. Eles se empenham em difamar Jesus, para
afastá-lo do povo.
O Espírito Santo é o amor. Considerar as
obras de amor do Espírito como sendo obras do demônio significa o
distanciamento – e até a ruptura – com o próprio amor de Deus. Rejeitar e
matar os que com amor buscam resgatar a dignidade humana dos
empobrecidos, explorados e excluídos significa a rejeição da vida e do
amor de Deus.
Na Encíclica « Dominum et vivificantem » §
46, de Sua Santidade João Paulo II, encontramos razões do “porquê” é
imperdoável o pecado contra o Espírito Santo.
Por que a «blasfêmia» contra o Espírito
Santo é imperdoável? Em que sentido se deve entender esta «blasfêmia»?
Santo Tomás de Aquino responde que se trata da um pecado «imperdoável
por sua própria natureza, porque exclui aqueles elementos graças aos
quais é concedida a remissão dos pecados».
Segundo uma tal exegese, a «blasfêmia»
não consiste propriamente em ofender o Espírito Santo com palavras;
consiste, antes, na recusa de aceitar a salvação que Deus oferece ao
homem, mediante o mesmo Espírito Santo agindo em virtude do sacrifício
da Cruz.
Se o homem rejeita o deixar-se «convencer
quanto ao pecado», que provém do Espírito Santo e tem caráter
salvífico, ele rejeita contemporaneamente a «vinda» do Consolador:
aquela «vinda» que se efetuou no mistério da Páscoa, em união com o
poder redentor do Sangue de Cristo: o Sangue que «purifica a consciência
das obras mortas». Sabemos que o fruto desta purificação é a remissão
dos pecados.
Por conseguinte, quem rejeita o Espírito e
o Sangue permanece nas «obras mortas», no pecado. E a «blasfêmia contra
o Espírito Santo» consiste exatamente na recusa radical de aceitar esta
remissão, de que Ele é o dispensador íntimo e que pressupõe a conversão
verdadeira, por Ele operada na consciência. Se Jesus diz que o pecado
contra o Espírito Santo não pode ser perdoado nem nesta vida nem na
futura, é porque esta «não remissão» está ligada, como a sua causa, à
«não-penitência», isto é, à recusa radical em converter-se.
Isto equivale a uma recusa radical de ir
até às fontes da Redenção; estas, porém, permanecem «sempre» abertas na
economia da salvação, na qual se realiza a missão do Espírito Santo.
Este tem o poder infinito de haurir destas fontes: «receberá do que é
meu», disse Jesus.
Deste modo, Ele completa nas almas humanas a obra da Redenção, operada por Cristo, distribuindo os seus frutos.
Ora, a blasfêmia contra o Espírito Santo é
o pecado cometido pelo homem, que reivindica o seu pretenso «direito»
de perseverar no mal — em qualquer pecado — e recusa por isso mesmo a
Redenção.
O homem fica fechado no pecado, tornando
impossível da sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a
remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante
para a sua vida.
É uma situação de ruína espiritual,
porque a blasfêmia contra o Espírito Santo não permite ao homem sair da
prisão em que ele próprio se fechou e abrir-se às fontes divinas da
purificação das consciências e da remissão dos pecados.
Rejeitar o amor de Jesus é rejeitar o próprio Espírito Santo, que é a comunicação da vida e do amor de Deus.
Padre Bantu Mendonça
Fonte:Liturgia Diária