Lucas 14,1.7-11
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
1Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 7Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: 8“Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. 10Mas, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. 11Porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
Breve comentário
Este Evangelho nos ajuda a corrigir um preconceito sumamente difundido: “Num sábado, Jesus entrou para comer na casa de um dos principais fariseus. Eles o observavam atentamente”. Ao ler o Evangelho a partir de um certo ponto de vista, acabou-se fazendo dos fariseus o modelo de todos os vícios, hipocrisia e falsidade. Com estes significados negativos, o termo fariseu passou a fazer parte do dicionário de nossa língua e de outras muitas.
Semelhante ideia dos fariseus não é correta. No entanto, entre eles havia, certamente, muitos elementos que respondiam a esta imagem, por isso Cristo os enfrentou. Mas nem todos eram assim. Nicodemos, que vai ver Jesus de noite e que depois o defende ante o Sinédrio, era um fariseu (cf. João 3,1; 7,50ss). Também Saulo era fariseu antes da conversão, e, certamente, era uma pessoa sincera e zelosa, ainda que não estivesse bem iluminado. Outro fariseu era Gamaliel, que defendeu os apóstolos ante o Sinédrio (cf. Atos 5,34ss).
As relações de Jesus com os fariseus não foram só de conflito. Compartilhavam muitas vezes as mesmas convicções, como a fé na ressurreição dos mortos, no amor de Deus e no compromisso como primeiro e mais importante mandamento da Lei. Alguns, como neste caso, inclusive O convidam para uma refeição em sua casa. Hoje, considera-se que mais do que os fariseus, quem queria a condenação de Jesus eram os saduceus, a quem pertencia a casta sacerdotal de Jerusalém.
Por todos estes motivos, seria sumamente desejável deixar de utilizar o termo fariseu em sentido depreciativo. Ajudaria ao diálogo com os judeus, que recordam com grande honra o papel desempenhado pela corrente dos fariseus em sua história, especialmente após a destruição de Jerusalém.
Durante a refeição, naquele sábado, Jesus ofereceu dois ensinamentos importantes: um dirigido aos convidados e outro para o anfitrião. Ao dono da casa, Jesus disse (talvez diante dele ou só em presença de Seus discípulos): “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides seus amigos nem seus irmãos, nem seus parentes, nem os vizinhos ricos…”. É o que o próprio Jesus fez, quando convidou para o grande banquete do Reino os pobres, os aflitos, os humildes, os famintose os perseguidos.
Nesta ocasião, quero deter-me a meditar sobre o que Jesus disse aos convidados: “Se o convidam a um banquete de bodas, não se coloque no primeiro lugar…”. Jesus não quer dar conselhos de boa educação nem sequer pretende alentar o sutil cálculo de quem se põe em uma fila com a escondida esperança de que o dono lhe peça que se aproxime. A parábola nisso pode dar pé ao equívoco se não se levar em consideração o banquete e o dono dos quais Jesus está falando. O banquete é o universal do Reino e o dono é Deus.
Na vida, Jesus escolhe o último lugar, procura contentar os demais mais do que a Si mesmo. Seja modesto na hora de avaliar seus méritos, deixe que sejam os demais quem os reconheçam e não você – “ninguém é bom juiz em causa própria”, – e já desde esta vida Deus lhe exaltará. Ele lhe exaltará com Sua graça, lhe fará subir na hierarquia de seus amigos e dos verdadeiros discípulos de Seu Filho, que é o que realmente importa.
Ele lhe exaltará também na estima dos demais. É um fato surpreendente, mas verdadeiro. Não só Deus “se inclina ante o humilde e rejeita o soberbo” (cf. Salmo 107,6); também o homem faz o mesmo, independentemente do fato de ser crente ou não. A modéstia, quando é sincera, conquista e faz com que a pessoa seja amada, faz com que sua companhia seja desejada, que sua opinião seja acolhida.
Vivemos numa sociedade que tem suma necessidade de voltar a escutar esta mensagem evangélica sobre a humildade. Correr para ocupar os primeiros lugares, talvez “pisoteando” – sem escrúpulos – a cabeça dos demais, são características desprezadas por todos e, infelizmente, seguidas por muitos. O Evangelho tem um impacto social, inclusive quando fala de humildade e hospitalidade.
“Pai, faz-me humilde e discreto no trato humano. E que eu não aspire grandeza humana. Basta-me ser reconhecido e exaltado por Ti”.
Padre Bantu Mendonça