— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 31Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 
33Responderam eles: “Somos descendentes de Abraão, e nunca  fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis  livres’?” 
34Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”. 
39Eles responderam então: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! 40Mas agora, vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as obras do vosso pai”. 
Disseram-lhe, então: “Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus”. 42Respondeu-lhes  Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, certamente me amaríeis, porque de Deus  é que eu saí, e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”.  
- Palavra da Salvação. 
- Glória a vós, Senhor. 
O Evangelho de hoje, dentre  tantas coisas, nos traz o caminho  de santidade que passa pelo  seguimento a Cristo, pois  esse  é, na realidade, um caminho na   liberdade e na verdade.
De fato, Jesus diz: “Se   permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus   discípulos; conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á” (João 8,31-32).
Propor a santidade de vida nada mais é  do que oferecer o caminho da autenticidade e da liberdade. À  luz da fé,  ser  santo é viver a verdade total, não limitada às  realidades  materiais ou apenas à vida terrena. Com efeito, o santo tem  em  consideração tanto os bens materiais como os espirituais; ele considera  tanto a realidade terrena como a sobrenatural, contempla a  própria vida  não apenas na perspectiva temporal, mas também eterna. Por  outras  palavras, o santo vive a pureza de intenções, considerando todos os  aspectos  da própria existência.
O  aspecto mais importante é que quem deseja a santidade abre-se para  Deus, o bem supremo e fonte verdadeira. Jesus disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Depois da Sua Morte e  Ressurreição, o Senhor prometeu que nos enviaria o Espírito Santo como “o  Espírito da Verdade” (Jo 16,13).
Diante de Pilatos, Jesus disse: “Foi por isso que nasci e para isso vim ao mundo: para  dar testemunho da verdade” (Jo 18,37). Seguindo radicalmente a Cristo,  caminhamos na autenticidade total.
A  santidade de vida e a abertura à  graça nos ajudam, na realidade, a  compreender mais profundamente as  verdades de Deus. São Paulo  escreve: “O homem natural não compreende as coisas do  Espírito de Deus; para ele são loucura, e não é capaz de as compreender”  (1Cor 2,14). Ou ainda: “Todo aquele que peca não viu Deus nem o  conheceu” (1Jo 3,6).
Não alcançamos a contemplação plena do  rosto do  Senhor unicamente com as nossas forças, mas deixando-nos guiar  pela  Sua graça. Só a experiência do silêncio e da oração oferecem o  horizonte  adequado, nos quais pode maturar e desenvolver-se o  conhecimento mais  verdadeiro, aderente e coerente ao mistério de Deus.  Por este motivo, com  frequência nos surpreende a compreensão perspicaz   sobre Deus  que os santos demonstram, mesmo os que não fizeram muitos  estudos.
No  Evangelho, Jesus fala da liberdade  espiritual. Na realidade, o olhar sobre todos os aspectos da nossa   existência, ajuda-nos a encontrar uma justa escala de valores.   Auxilia-nos, por conseguinte, a não nos tornarmos dependentes nem  permanecermos  escravos dos bens materiais e das nossas concupiscências,  dos vícios, do  pecado; mas nos estimula e nos torna capazes de desejar  os valores mais  importantes, indestrutíveis, perenes.
Jesus, no Evangelho de hoje, responde aos judeus de maneira clara: “Em verdade, em verdade vos digo: aquele  que cometer pecado é escravo do pecado”.  Vem à nossa mente tantos  jovens que, hoje, são escravos da droga, do  sexo, do prazer, do dinheiro,  do orgulho, da preguiça, da inveja, etc.  Não são livres para desejar valores maiores.
Contudo, quem de nós não experimentou – e   não experimenta em maior ou menor medida – a escravidão de vários  vícios e  debilidades? Santo Agostinho, que depois de uma vida tão  libertina teve  que se esforçar bastante para encontrar esta liberdade  espiritual, isto  é, para partir as correntes dos seus maus hábitos e da  paixão carnal, escreveu com convicção: “Ouso dizer que à  medida que  servimos a Deus somos livres, enquanto que, à medida que  servimos a lei  do pecado, somos escravos”.
Santo  Agostinho também tinha a  consciência de que a liberdade espiritual não  se alcança plenamente com  as próprias forças, mas unicamente por meio da  graça, da ajuda do  Senhor. Contudo, Jesus afirma isso de maneira clara  no Evangelho que  ouvimos: “Por conseguinte, se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres”.
O  caminho de santidade é para a  liberdade espiritual, que pode se manifestar “até em condições de   constrição exterior”, como nos ensina o Papa João Paulo II, na Carta   Encíclica “Redemptor Hominis”, 12.
A condição da sua autenticidade é “a   exigência de uma relação honesta em relação a toda verdade  acerca do  homem e do mundo”, continua Sua Santidade. Assim,  voltam à nossa mente  as palavras de Jesus no Evangelho de hoje: “a verdade libertar-vos-á”.
Peçamos  ao Senhor que nos ajude a  aceitar, seriamente, o convite à  santidade nas nossas condições de vida  cotidiana, que não é mais que um  convite a caminhar na verdade total e  na liberdade autêntica.
Padre Bantu Mendonça