— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 1Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. 2Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. 3Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. 4Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali. 5Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. 6Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com alegria. 7Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!” 8Zaqueu
 ficou de pé, e disse ao Senhor: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens 
aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. 
9Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. 10Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. 
 - Palavra da Salvação. 
 - Glória a vós, Senhor. 
 
Comentário
O Evangelho de hoje nos apresenta a encantadora história de Zaqueu. 
Jesus chegou a Jericó. Não é a primeira vez que vai e, nesta ocasião, ao
 aproximar-se, também curou a um cego (v. Lc 18, 35 ss). Isto explica 
por que há tanta multidão esperando-o. Zaqueu, «chefe de publicanos e 
rico», para vê-lo melhor, sobe em uma árvore no caminho que as pessoas 
seguem (logo na entrada de Jericó há ainda um velho sicômoro que seria o
 de Zaqueu!).
«Quando Jesus chegou àquele lugar, levantando os olhos lhe disse: 
“Zaqueu, desce logo; porque convém que hoje eu fique em sua casa”. 
Apressou-se a descer e lhe recebeu com alegria. Ao vê-lo, todos 
murmuravam dizendo: “Foi hospedar-se na casa de um homem pecador”».
O episódio serve para evidenciar, uma vez mais, a atenção de Jesus 
pelos humildes, os rejeitados e desprezados. Seus concidadãos 
desprezavam a Zaqueu porque praticava injustiças com o dinheiro e com o 
poder, e possivelmente também porque era pequeno de estatura; para eles,
 Zaqueu não é mais que «um pecador». Jesus, ao contrário, vai 
encontrar-lhe em sua casa; deixa a multidão de admiradores que lhe 
recebeu em Jericó e vai para a casa somente de Zaqueu. Faz como o Bom 
Pastor, que deixa as noventa e nove ovelhas para buscar a que completa a
 centena, a que se perdeu.
Também a atuação e as palavras de Zaqueu contêm um ensinamento. Estão
 relacionadas com a atitude para com a riqueza e para com os pobres. 
Deste ponto de vista, o episódio de Zaqueu deve ser lido com o fundo das
 duas passagens que lhe precedem, a do rico e a do jovem rico.
O rico negava ao pobre até as migalhas que caiam de sua mesa; Zaqueu 
dá a metade de seus bens aos pobres. O rico usa de seus bens só para si e
 para seus amigos ricos que lhe podem corresponder; Zaqueu usa seus bens
 também para os demais, para os pobres. A atenção, como se vê, está no 
uso que se deve fazer das riquezas. As riquezas são iníquas quando se 
equiparam, subtraindo-as aos mais frágeis e empregando-as para o próprio
 luxo desenfreado; deixando de ser iníquas quando são fruto do próprio 
trabalho e se põem a serviço dos demais e da comunidade.
Confrontar o episódio do jovem rico é igualmente instrutivo. Ao jovem
 rico Jesus diz que “venda tudo o que tem e dê aos pobres” (Lc 18, 22); 
com Zaqueu, se contenta com sua promessa de dar aos pobres a metade de 
seus bens. Zaqueu, em outras palavras, continua sendo rico. A tarefa que
 realiza lhe permite seguir sendo rico, inclusive depois de ter 
renunciado à metade de seus pertences.
Isto retifica uma falsa impressão que se pode ter de outras passagens
 do Evangelho. Não é a riqueza em si o que Jesus condena sem apelação, 
mas o uso iníquo dela. Existe salvação também para o rico! Zaqueu é a 
prova disto. Deus pode fazer o milagre de converter e salvar a um rico 
sem, necessariamente, reduzi-lo ao estado de pobreza. Uma esperança, 
esta, que Jesus não negou jamais e que inclusive alimentou, não 
desdenhando frequentar, Ele, o pobre, também a casa de alguns ricos e 
chefes militares.
Certo: Ele jamais encontrou os ricos nem buscou seu favor suavizando,
 quando estava em sua companhia, as exigências de seu Evangelho. 
Completamente ao contrário! Zaqueu, antes de ouvir o que lhe foi dito: 
“Hoje chegou a salvação a esta casa”, teve que tomar uma valente 
decisão: dar aos pobres a metade de seu dinheiro e dos bens acumulados, 
reparar as fraudes cometidas em seu trabalho restituindo o quádruplo. O 
caso de Zaqueu se apresenta, assim, como o reflexo da conversão 
evangélica que é sempre – e por sua vez – conversão a Deus e aos irmãos.
O Zaqueu de hoje sou eu e é você, a quem Jesus chama: “Desce depressa… a salvação chegou em sua casa”.
Padre Bantu Mendonça
Fonte:Liturgia Diária