— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João. 
— Glória a vós, Senhor. 
Naquele tempo, estando à mesa com seus discípulos, 21Jesus ficou profundamente comovido e testemunhou: “Em verdade, em verdade vos digo, um de vós me entregará”. 22Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem Jesus estava falando.
23Um deles, a quem Jesus amava, estava recostado ao lado de Jesus. 24Simão Pedro fez-lhe um sinal para que ele procurasse saber de quem Jesus estava falando. 25Então, o discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: “Senhor, quem é?”
26Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o pedaço de pão  passado no molho”. Então Jesus molhou um pedaço de pão e deu-o a Judas,  filho de Simão Iscariotes. 27Depois do pedaço de pão, Satanás entrou em Judas. Então Jesus lhe disse: “O que tens a fazer, executa-o depressa”.
28Nenhum dos presentes compreendeu por que Jesus lhe disse isso. 29Como  Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus lhe queria dizer:  ‘Compra o que precisamos para a festa’, ou que desse alguma coisa aos  pobres. 30Depois de receber o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente. Era noite. 
31Depois que Judas saiu, disse Jesus: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33Filhinhos,  por pouco tempo estou ainda convosco. Vós me procurareis, e agora vos  digo, como eu disse também aos judeus: ‘Para onde eu vou, vós não podeis  ir’”.
36Simão Pedro perguntou: “Senhor, para onde vais?” Jesus  respondeu-lhe: “Para onde eu vou, tu não me podes seguir agora, mas  seguirás mais tarde”. 37Pedro disse: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Eu darei a minha vida por ti!” 38Respondeu  Jesus: “Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: o  galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes”. 
- Palavra da Salvação. 
- Glória a vós, Senhor. 
              Estamos no dia mais  movimentado do ministério público de Jesus.  Trata-se da última  terça-feira vivida por Ele, antes da Sua  morte na cruz.
O  dia começa bem cedo, com a saída de  Jesus e Seus discípulos de Betânia  a caminho de Jerusalém, e termina à  noite, durante um jantar em Betânia, no qual Maria unge Jesus para a  sepultura e Ele aponta o traidor. Durante esse jantar, Cristo  delineia o  conteúdo do novo mandamento e Judas sai, possuído por  Satanás, para  trair o seu Mestre, entregando-O aos principais sacerdotes e capitães do  templo. Infelizmente, Judas é uma peça na  articulação dos chefes  religiosos do templo e das sinagogas ao  planejarem a morte de Cristo.
Tendo sido configurado o  ato da traição  de Judas, Jesus anuncia a glorificação do Filho do Homem.  É a  manifestação plena do Seu amor até o fim, sem limites. A  partir da  traição do discípulo, tem início a glória de Jesus, ou seja, Sua Paixão,  Morte e Ressurreição, a obra de  Sua vida em plenitude, pela qual nos  tornamos eternamente perfeitos.
O  dia está cinzento e nublado por causa  das acusações  recebidas e também das respostas dadas pelo Senhor às  ardilosas questões dos fariseus,  saduceus e herodianos sobre a Sua  autoridade, ressurreição dos mortos,  tributos e o grande mandamento.  Aqui também acrescenta-se o discurso escatológico de  Jesus, a profecia  da destruição de Jerusalém, ensinamentos sobre a segunda  vinda,  condenação dos ímpios e galardão dos salvos.
É  um dia terrivelmente desgastante e só Jesus poderia  concretizá-lo. Ele foi fiel, concreto e objetivo. Nada deixou por fazer.
É  Terça-feira Santa. Jesus vislumbra já  a Sua futura trajetória, na qual,  com a cruz às costas e com um  sorriso nos lábios, dirá: “Está consumado!”.
O  evangelista João dirá, várias vezes,  que Judas era um ladrão. Logo,  alguém de caráter duvidoso, de quem se  podia esperar tudo. A traição  seria apenas mais uma manifestação da  personalidade malsã desse  discípulo. Os Evangelhos, em geral,  referem-se a Judas como alguém que  vendeu sua própria consciência ao  aceitar entregar o Mestre por um  punhado de dinheiro.
Entretanto, é possível suspeitar de  outras razões  para essa atitude tresloucada. Será que Judas entendeu,  de fato, o projeto  de Jesus? Terá sido capaz de abrir mão de seus  esquemas messiânicos para  aceitar Jesus tal qual se apresentava? Estava  disposto a seguir um  Messias pobre, manso, amigo dos excluídos e  marginalizados, anunciador  de um Reino incompatível com a violência e a  injustiça?
Judas esperava  tirar partido do Reino a  ser instaurado por Jesus. Vendo frustrado o seu  intento, não teria  tido escrúpulo ao trair o Mestre? Uma coisa é certa: Judas -  como  muitos de nós – estava longe de sintonizar-se com Jesus. Algo  parecido  acontecia com Pedro, que haveria de negá-Lo. A diferença entre  os dois é  que Pedro recuou, mas se converteu à misericórdia do Senhor.
Meu  irmão, o texto de hoje nos revela a  festa já da Última Ceia.  São João vai interpretando os acontecimentos  de maneira simbólica: por meio do pedaço de pão molhado, Satanás entra  em Judas; já era noite, a morte de Jesus é a Sua glorificação; Pedro  segue o Mestre depois, mas antes O  nega. Espiritualmente, ele está com  vontade e desejo de seguir o Senhor, mas a carne o impede de fazê-lo.
Jesus está cada vez mais abandonado  pelos homens, ao mesmo tempo em que é o Salvador deles, por isso não  olha  para trás e segue o Seu caminho. Ele sabe que chegou a hora da   glorificação do Filho do Homem: “Agora, a natureza divina do Filho  do  Homem é revelada e, por meio dele, é revelada também a natureza  gloriosa  de Deus. E, se por meio dele a natureza gloriosa de Deus for  revelada,  então, Deus revelará em si mesmo a natureza divina do Filho  do Homem. E  Deus fará isso agora mesmo” (cf. Jo 13,31-32).
Depois  da rejeição dos meios oficiais,  vem agora a traição e a negação dos Seus. Essa foi a atitude dos dois  discípulos: Judas e Pedro. Mas, muitas vezes, é a nossa  atitude também.
Quantas vezes, depois de um emprego  adquirido ou de um casamento tão almejado, de um filho desejado ou  depois da conquista de uma casa  própria, enfim, após uma graça  recebida, colocamos Jesus de lado? O que é mais grave: trocamos o Senhor  pelos bens temporais e, assim, O negamos.
Olhemos para nós e nos perguntemos se somos fiéis ao Evangelho e se o testemunhamos no mundo de hoje.
Padre Bantu Mendonça