segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Evangelho do Dia


Evangelho (Marcos 2,18-22)




Segunda-Feira, 16 de Janeiro de 2012
2ª Semana Comum

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 18os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?” 19Jesus respondeu: “Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar. 20Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; aí, então, eles vão jejuar. 21Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”.


- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
Comentário
Nesta narrativa de Marcos, o destaque é a questão do jejum, uma das principais observâncias religiosas dos fariseus, mencionado seis vezes neste texto. Jesus, com Seus discípulos, infringia essa prescrição legal, bem como a observância do sábado, conforme os Evangelhos registram com frequência. Em vez de aderir à tradicional doutrina da Lei que, com seus preceitos oprimia e excluía o povo pobre e humilde, Cristo vem para libertá-los de todo jugo, social, espiritual ou religioso, e comunicar-lhes esperança, felicidade e vida.
O texto de hoje relata a terceira duma série de controvérsias com vários grupos judaicos, iniciada em Marcos 2,1. Talvez, surpreendentemente, a discussão de hoje se deu não somente com os fariseus, mas com os discípulos de João Batista. Marcos fala disso porque os discípulos de João formavam uma comunidade que sobreviveu à morte do Batista, sem dúvida até o segundo século da nossa era (cf. Jo 3,25). O motivo foi porque os discípulos de Jesus não davam grande importância ao jejum – uma prática que, ao lado da oração e da esmola, era muita cara às tradições religiosas dos judeus. Aliás, práticas também que continuam a ter muito sentido para os cristãos de hoje, se bem que com ênfases e expressões diferentes.
O Sermão da Montanha, no sexto capítulo de Mateus (cf. Mt 6,1-18), nos dá as orientações de Jesus sobre essas práticas, para evitar que caiam no formalismo e no vazio de serem somente práticas externas que não tocam no coração da pessoa humana. Atualmente, na Sexta-feira Santa por exemplo, lotam-se os restaurantes para comer bacalhau caríssimo, uma vez que comer um bifezinho é proibido! E, assim, se cumpre a Lei “na letra” mas não “no espírito”.
Mas no trecho de hoje,o Senhor Jesus não se concentra sobre o jejum como tal, mas sobre o simbolismo de jejuar ou não no contexto das bodas ou casamento. A imagem do banquete de casamento tinha conotações messiânicas e a referência a Jesus, como o Noivo, tem esse sentido. Com a vinda de Jesus Nazareno, chegou a hora do casamento, ou seja, dum novo relacionamento entre Deus e as pessoas. Mas também nesse texto, bem no meio das controvérsias, se faz uma alusão clara à cruz, ao destino de Cristo, pois “vão chegar dias em que o noivo será tirado do meio deles. Nesse dia, eles vão jejuar”. A fidelidade à vontade do Pai, na pregação da novidade da chegada do Reino de Deus, levará Cristo inevitavelmente à morte, pois o velho sistema politico-religioso é incapaz de adaptar-se à grande novidade da Boa Nova trazida por Ele.
Por isso, Marcos termina o texto colocando duas comparações sobre a relação entre o velho e o novo: o pano remendado e os barris de vinho. A Boa Nova, com as suas consequências sociais e religiosas, é como um pano novo no qual não pode remendar roupas velhas, e como barril novo que preserva vinho novo. Para acolher Jesus e o Seu projeto é necessário acabar com estruturas arcaicas de dominação e de discriminação. Quem procurar salvaguardar esquemas antiquados e injustos não vai conseguir vivenciar a Boa Nova. O Salvador veio exigir de todos nós mudança radical, tanto no nível individual como social. Não veio “remendar”, mas trazer algo novo – um novo relacionamento entre as pessoas, com Deus, com elas mesmas e com a criação.
A presença de Jesus Cristo entre Seus discípulos e no mundo é motivo de alegria. É o próprio Deus da vida e do amor presente entre nós, dispensando as práticas cultuais que são feitas em busca de um deus oculto e distante.
Com as sentenças sobre remendo novo em roupa velha e vinho novo em odres velhos fica afirmada a novidade do movimento de Jesus, que se diferencia fundamentalmente da antiga prática religiosa legalista.
O desafio continua hoje: como é tentador “remendar”, ou seja, fazer somente algumas mudanças que não atingem o cerne das estruturas de exploração, nem a sua raiz na nossa pecaminosidade. Por isso, a sociedade hegemônica, dizendo-se muitas vezes “cristã”, sempre procura cooptar o Evangelho e a Igreja, para que não tenha que mudar. Quando a cooptação e o suborno sutil não funcionam, parte para a perseguição – por isso Marcos desde já aponta para a cruz. A sociedade moderna, com a sua grande arma nos Meios de Comunicação Social, continua essa cooptação, disseminando uma religião “água com açúcar”, de “panos quentes”, dando espaço para movimentos religiosos intimistas e alienantes, enquanto cala a voz dos profetas, ignorando-os ou até matando-os, como o sangue dos mártires da América Latina muito bem testemunha.
O Evangelho de hoje nos desafia para que façamos as mudanças radicais necessárias a fim de que possamos acolher a Boa Nova. E então seremos odres novos que acolhem o Vinho Novo. E então seremos alvos da mensagem de Jesus: “Vinho novo deve ser colocado em odres novos” que são os nossos corações.
Padre Bantu Mendonça

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