quarta-feira, 25 de abril de 2012

Reflexão


PAIS HERÓIS

            Pais heróis e mães rainhas do lar.
            Passamos boa parte da nossa existência cultivando estes estereótipos.
            Até que um dia o pai herói começa a passar o tempo todo sentado, resmunga baixinho e puxa uns assuntos sem pé nem cabeça.
            A rainha do lar começa a ter dificuldade de concluir as frases e dá pra implicar com a empregada.
            O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para outra?
            Nossos pais envelhecem.
            Ninguém havia nos preparado pra isso.
            Um belo dia eles perdem o garbo, ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas.
            Estão cansados de cuidar dos outros e de servir de exemplo: agora chegou a vez de eles serem cuidados e mimados por nós, nem que pra isso recorram a uma chantagenzinha emocional.
            Têm muita quilometragem rodada e sabem tudo,  já viram de tudo, e o que não sabem já não importa mais.
            Não fazem mais planos a longo prazo, agora dedicam-se a pequenas aventuras, como comer escondido tudo o que o médico proibiu.
            Estão com manchas na pele. Ficam tristes de repente. Mas não estão caducos: caducos ficam os filhos, que relutam em aceitar o ciclo da vida.
            É complicado aceitar que nossos heróis e rainhas já não estejam no controle da situação. Estão frágeis e um pouco esquecidos, têm este direito,  mas seguimos exigindo deles a energia de uma usina.
            Não admitimos suas fraquezas, seu desânimo.  Ficamos irritados se eles se atrapalham com o celular e ainda temos a cara-de-pau de corrigi-los quando usam expressões em desuso: "cafona"? "na fossa"? "automóvel"?
            Em vez de aceitarmos com serenidade o fato de que as pessoas adotam um ritmo mais lento com o passar dos anos, simplesmente ficamos irritados por eles terem traído nossa confiança, a confiança de que seriam indestrutíveis como os super-heróis.
            Provocamos discussões inúteis e os enervamos com nossa insistência para que tudo siga como sempre foi. Essa nossa intolerância só pode ser medo.
            Medo de perdê-los e medo de perdermos a nós mesmos, medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais.
            É uma enrascada essa tal de passagem do tempo.
            Nos ensinam a tirar proveito de cada etapa da vida, mas é difícil aceitar as etapas dos outros, ainda mais quando os outros são papai e mamãe, nossos alicerces, nosso porto seguro, aqueles para quem sempre podíamos voltar, e que agora estão dando sinais de que um dia irão partir sem nós e sem aviso...

Nenhum comentário:

Postar um comentário