— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 1vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2e Jesus começou a ensiná-los:
3“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
4Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
5Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!
11Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. 12aAlegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.
-Palavra da Salvação!
-Glória a vós Senhor!
Breve comentário
O chamado Sermão da Montanha faz parte do discurso inaugural do ministério público de Jesus, que se estende dos capítulos 5 a 7 do Evangelho de São Mateus. O de hoje é o primeiro dos cinco discursos que o evangelista distribui estrategicamente no seu livro.
No texto destacamos dois elementos fundamentais: primeiro está o lugar de onde Jesus fala e o conteúdo do discurso. Depois de pregar nas sinagogas da Galileia, acompanhado de uma grande multidão, Cristo subiu ao monte para rezar, escolhe os doze apóstolos e depois chega a um lugar plano.
Sentando ali, os discípulos do Senhor e toda a multidão se aproximam de Jesus. Então Ele, tomando a palavra, começa a ensinar: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos céus [...]“.
A intenção evidente do evangelista é apresentar-nos um discurso completo. Há, portanto, aqui, uma unidade retórica; sendo este termo entendido não só como uso de figuras de estilo, mas, sobretudo, como forma de usar as palavras e construir o discurso visando cumprir um determinado objetivo, que neste caso é proclamar de um modo novo o Evangelho do Reino.
Não há aqui espaço para uma interpretação detalhada do texto. Utilizaremos como marco hermenêutico a novidade que este sermão nos traz, advertindo desde já que, de maneira nenhuma, se trata de ruptura com o Antigo Testamento, mas sim do seu pleno cumprimento em Jesus Cristo. De fato, Ele declara: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição”. Levar à perfeição é o mesmo que dar pleno cumprimento, realizar plenamente.
À semelhança de Moisés, que sobe ao monte Sinai para receber as tábuas da Lei que há-de comunicar ao povo de Israel (cf. Ex 19,3.20; 24,15), há quem veja na pessoa de Jesus um “novo Moisés” que surge como Mestre – não apenas de Israel – mas de todos os homens, chamados à vocação universal de serem discípulos de Cristo, pela escuta e vivência da sua Palavra: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu” Ou ainda: “Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha”.
Jesus senta-se na “cátedra” de Moisés (a montanha) como o Moisés maior, que estende a Aliança a todos os povos. Assim, podemos ver o Sermão da Montanha como “a nova Torah” trazida por Ele.
Devemos insistir, porém, que não se trata aqui de abandonar a Torah dada na aliança do Sinai. É sabido que o primeiro Evangelho foi escrito para uma comunidade de cristãos de origem judaica, enraizados e familiarizados com a Lei de Moisés que continuava a ser valorizada e praticada. A preocupação do evangelista é mostrar que, sem abolir nada do que Moisés tinha deixado, Cristo, com a Sua ação, o supera e leva à perfeição como só Ele pode fazê-lo, absolutamente melhor do que qualquer outro profeta.
O que Mateus nos apresenta no texto de hoje não tenho nem sequer uma sombra de dúvida de que seja o anúncio de um novo céu e uma nova terra onde haveremos de morar. É como que a realização de todas as promessas e bênçãos de Deus nos discípulos da nova Aliança em Cristo, assim como no novo espírito com que se deve cumprir a Lei, concretizado nas práticas da esmola, da oração e do jejum.
A atitude dos filhos do Reino traduz-se numa nova relação com as riquezas, com o próprio corpo, com as coisas do mundo e com Deus, a quem nos dirigimos como Pai e de cujo Reino se busca a justiça, antes de tudo.
Como não se pode dizer que se ama a Deus se não se ama os irmãos, não falta aqui a referência a uma nova relação com o próximo. Finalmente, o epílogo do Sermão da Montanha faz uma recapitulação e um apelo veemente a não apenas escutar a Palavra, mas a pô-la em prática de forma consciente e deliberada.
Procuramos, da forma mais breve possível, ver como em Jesus Cristo se cumpre a promessa de Deus ao povo de Israel em Deuteronômio 18,15: “O Senhor, teu Deus, suscitará no meio de vós, dentre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deves escutar”e a Moisés em Dt 18,18: “Suscitar-lhes-ei um profeta como tu, dentre os seus irmãos; porei as minhas palavras na sua boca e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar”.
Como acontece noutras passagens dos Evangelhos, também aqui Jesus Cristo anuncia o Reino dos céus. Esta é uma forma semítica de dizer “Reino de Deus” que está no meio de nós e se realiza plenamente no domínio ou reinado de Deus sobre todas as suas criaturas e na aceitação ativa, alegre e jubilosa desse reinado pelas mesmas criaturas, a começar pelo homem, criado à Sua imagem e semelhança.
O Sermão da Montanha é então para nós um autêntico programa de vida cristã que não deixaremos de meditar e pôr em prática em todos os dias, pois ele compreende o anúncio do novo céu e da nova terra onde haveremos de morar.
Padre Bantu Mendonça
Nenhum comentário:
Postar um comentário