quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Para Refletir

"O pão é o fruto do trabalho múltiplo do ser humano: de muitas pessoas e de muitos aspectos do trabalho."
Alonso Schökel

Santo do Dia

Santo Inácio de Antioquia

No centro do Coliseu romano, o bispo cristão aguarda ser trucidado pelas feras, enquanto a multidão exulta em gritos de prazer com o espetáculo sangrento que vai começar. Por sua vez, no estádio, cristãos incógnitos, misturados entre os pagãos, esperam, horrorizados, que um milagre salve o religioso. Os leões estão famintos e excitados com o sangue já derramado na arena. O bispo Inácio de Antioquia, sereno, esperava sua hora pronunciando com fervor o nome do Cristo. 

Foi graças a Inácio que as palavras cristianismo e Igreja Católica surgiram. Era o início dos tempos que mudaram o mundo, próximo do ano 35 da era cristã, quando ele nasceu. Segundo os estudiosos, não era judeu e teria sido convertido pela primeira geração de cristãos, os apóstolos escolhidos pelo próprio Jesus. Cresceu e foi educado entre eles, depois sucedeu Pedro no posto de bispo de Antioquia, na Síria, considerada a terceira cidade mais importante do Império Romano, depois de Roma e Alexandria, no Egito. Gostava de ser chamado Inácio Nurono. Inácio deriva do grego "ignis", fogo, e Nurono era nome que ele mesmo dera a si, significando "o portador Deus". Desse modo viveu toda a sua vida: portador de Deus que incendiava a fé. 

Mas sua atuação logo chamou a atenção do imperador Trajano, que decretou sua prisão e ordenou sua morte. Como cristão, deveria ser devorado pelas feras para diversão do povo ávido de sangue. O palco seria o recém-construído Coliseu. 

A viagem de Inácio, acorrentado, de Antioquia até Roma, por terra e mar, foi o apogeu de sua vida e de sua fé. Feliz por poder ser imolado em nome do Salvador da humanidade, pregou por todos os lugares por onde passou, até no local do martírio. Sua prisão e condenação à morte atraiu todos os bispos, clérigos e cristãos em geral, de todas as terras que atravessou. Multidões juntavam-se para ouvir suas palavras. Durante a viagem final, escreveu sete cartas que figuram entre os escritos mais notáveis da Igreja, concorrendo em importância com as do apóstolo Paulo. Em todas faz profissão de sua fé, e contêm ensinamentos e orientações até hoje adotados e seguidos pelos católicos, como ele tão bem nomeou os seguidores de Jesus. 

Numa dessas cartas, estava o seu especial pedido: "Deixai-me ser alimento das feras. Sou trigo de Deus. É necessário que eu seja triturado pelos dentes dos leões para tornar-me um pão digno de Cristo". Fazia-o sabendo que muitos de seus companheiros poderiam influenciar e conseguir seu perdão junto ao imperador. Queria que o deixassem ser martirizado. Sabia que seu sangue frutificaria em novas conversões e que seu exemplo tocaria o coração dos que, mesmo já convertidos, ainda temiam assumir e propagar sua religião. 

Em Roma, uma festa que duraria cento e vinte dias tinha prosseguimento. Mais de dez mil gladiadores dariam sua vida como diversão popular naquela comemoração pela vitória em uma batalha. Chegada a vez de Inácio, seus seguidores e discípulos esperavam, ainda, o milagre. 

Que não viria, porque assim desejava o bispo mártir. Era o dia 17 de outubro de 107, sua trajetória terrena entrava para a história da humanidade e da Igreja.

Evangelho do Dia

Evangelho (Lucas 11,42-46)
Quarta-Feira, 17 de Outubro de 2012
Santo Inácio de Antioquia



— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.


Naquele tempo, disse o Senhor: 42“Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Vós deveríeis praticar isso, sem deixar de lado aquilo. 43Ai de vós, fariseus, porque gostais do lugar de honra nas sinagogas, e de serdes cumprimentados nas praças públicas. 44Ai de vós, porque sois como túmulos que não se veem, sobre os quais os homens andam sem saber”.
45Um mestre da Lei tomou a palavra e disse: “Mestre, falando assim, insultas-nos também a nós!” 46Jesus respondeu: “Ai de vós também, mestres da Lei, porque colocais sobre os homens cargas insuportáveis, e vós mesmos não tocais nessas cargas, nem com um só dedo”.


- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.


Comentário

No Evangelho de hoje, vemos continuar o relacionamento conflituoso entre Jesus e as autoridades religiosas da época.
O “Ai de vós” pronunciado por Cristo, referindo-se aos fariseus que deixam de lado a justiça e o amor a Deus e ao próximo, torna-se uma crítica de Jesus contra os líderes religiosos daquela época e que pode ser repetida contra muitos líderes religiosos dos séculos seguintes até hoje. Muitas vezes, em nome de Deus, insistimos em detalhes e esquecemos a justiça e o amor.
A observação final de Jesus diz: “Vós deveríeis praticar isso, sem deixar de lado aquilo”. Esta advertência faz lembrar uma outra observação de Jesus que serve de comentário: “Não penseis que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17-20). Jesus é a plenitude da Lei. Sem Ele ninguém vai ao Pai. Então, ouvir a Sua palavra, guardá-la e pô-la em prática, vale mais do que toda a Lei e os Profetas.
Nos Evangelhos, a imagem que os fariseus passavam ao povo em geral era muito forte. Por fora, sempre pareciam justos e bons, mas esse aspecto é um engano, pois dentro deles existia um “sepulcro escondido” que, sem o povo se dar conta, espalhava um veneno que mata, que comunica uma mentalidade que afasta de Deus e sugere uma compreensão errada da Boa Nova do Reino. Uma ideologia que faz do Deus vivo um ídolo morto! Não será esta a sua situação, às vezes?
Talvez você diga: “Não! Isto não me diz respeito”. Mas veja, ao mestre que reclama pela mensagem bem dada, Jesus responde deixando bem claro: “Ai de vós também, mestres da Lei, porque colocais sobre os homens cargas insuportáveis, e vós mesmos não tocais nessas cargas, nem com um só dedo”.
No Sermão da Montanha, Jesus expressou a mesma crítica que serve de comentário: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vós deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,2-4).
A hipocrisia mantém uma aparência enganadora. Até onde atua em mim a hipocrisia? Até onde a hipocrisia atua na nossa Igreja? Jesus criticava os escribas que insistiam na observância disciplinar das coisas miúdas da Lei como o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as ervas, e esqueciam de insistir no objetivo da Lei que é a prática da justiça e do amor. Para mim esta critica vale! E para você?
Pai, coloca-me em sintonia com Jesus, para Quem a justiça e o amor a Ti valem mais que o legalismo dos que são incapazes de descobrir o Teu verdadeiro desígnio.
Padre Bantu Mendonça